Unidade e combatividade <br> na Península de Setúbal
A adesão na indústria foi superior à da greve anterior
A Península de Setúbal pode ter perdido, nas últimas décadas, algumas das suas empresas mais emblemáticas, mas mantém intocável a sua qualidade de fortaleza da resistência e da luta dos trabalhadores e do povo. Na greve geral de anteontem, uma das maiores dos últimos tempos, isso ficou uma vez mais comprovado, com as adesões a serem em geral superiores à paralisação de 22 de Março último.
Um dos sectores em que a greve geral se fez sentir com mais pujança foi o dos transportes. Na Linha do Sado da CP, bem como na CP Carga e nos Transportes Colectivos do Barreiro, a adesão foi total. Nos Transportes Sul do Tejo a participação dos trabalhadores foi de 90 por cento. Na Transtejo foram definidos serviços mínimos, ao contrário do que aconteceu em greves anteriores, e só essas carreiras levantaram ferro. A Soflusa sentiu fortes constrangimentos ao seu funcionamento devido à greve.
Na indústria, a adesão foi consideravelmente maior do que em paralisações anteriores. No estaleiro da Lisnave na Mitrena, em Setúbal, a produção esteve parada. No Parque Industrial de Palmela, onde funciona a Autoeuropa e outras empresas a ela ligadas, só se trabalhou numa delas, e com sérios constrangimentos. Na Visteon, no primeiro turno do dia, só funcionaram duas das 13 linhas de produção enquanto que na Alstom houve também uma grande adesão dos trabalhadores. Na Fisipe, a participação dos trabalhadores foi superior à da última greve geral.
No que respeita à administração local, quase todos os serviços estiveram encerrados. Na recolha de resíduos sólidos urbanos a adesão foi total em todos os municípios da região.
Na Saúde, os enfermeiros protagonizaram uma greve muito significativa nos hospitais da região: 75 por cento no Hospital Garcia de Orta; 88 por cento no Hospital do Barreiro; 78 por cento no Hospital do Montijo e 72 por cento no Hospital do Outão (dados do turno da manhã). Os assistentes técnicos e operacionais também aderiram em grande número. De manhã, no Hospital de Setúbal, a adesão foi de 80 por cento, havendo serviços – como os de Urologia, Ortopedia ou Análises – onde esta rondou os 100 por cento.
Na educação, várias escolas de diversos níveis de ensino e Instituições Particulares de Solidariedade Social não abriram as portas devido à greve. O serviço de atendimento da Segurança Social de Setúbal encerrou.
Nas empresas e na rua!
As três concentrações realizadas na região trouxeram para as ruas dos principais concelhos as causas e os resultados da greve geral. Enquanto muitos trabalhadores permaneciam nos piquetes de greve prosseguindo o esclarecimento dos colegas mais hesitantes, outros gritavam a plenos pulmões as múltiplas razões que justificaram tão ampla adesão à greve geral: o rumo de empobrecimento dos trabalhadores e do povo; o agravamento da exploração, a destruição de serviços públicos e do poder local democrático, a submissão às grandes potências da União Europeia.
Muitos dos manifestantes eram trabalhadores no activo que exerciam, nesse dia, o seu legítimo e imperativo direito à greve, enquanto que outros eram reformados, desempregados ou estudantes – todos unidos pela rejeição de uma política que a todos esmaga e rouba as perspectivas de um presente e um futuro melhores. De manhã tiveram lugar duas concentrações: uma reunindo os concelhos do Seixal e de Almada; e outra os da Moita e do Barreiro. À tarde, foi Setúbal a encher-se do protesto e da luta por uma vida melhor e mais digna para quem vive do seu trabalho.
Metro Sul do Tejo
Notável reforço da organização e da luta
Afirmar que a greve geral de anteontem foi a maior de sempre na Metro Transportes do Sul (MTS) poderia não ter muito significado se olhássemos simplesmente para o facto, real, de ter sido apenas a segunda vez que os seus trabalhadores aderiram a uma greve geral. Mas seria simplista ver as coisas desta forma.
Há praticamente um ano, no Avante! em que se noticiou a greve geral de 24 de Novembro, não se falou da MTS, tão pouco significativa que foi a adesão verificada nesta empresa onde reinava – e reina ainda – a precariedade e os baixos salários. As greves iam-se sucedendo e o Metro andava. Sempre.
Mas deixou de ser assim. Nestes últimos meses, muito mudou na empresa de transporte ferroviário ligeiro que serve os concelhos de Almada e Seixal: criou-se organização sindical e partidária e várias lutas foram travadas, algumas delas com dimensão considerável, como a recente greve às horas extraordinárias.
Foram estes avanços que permitiram que a adesão a esta greve tenha sido tão significativa. Eles e o imenso e combativo piquete de greve que se concentrou junto às instalações da empresa, e que demoveu muitos trabalhadores que pretendiam pegar ao trabalho de o fazer.
Num dia normal, ainda antes das sete da manhã, teriam saído 22 composições; anteontem, à mesma hora, não saíra nenhuma. Horas depois os quadros electrónicos instalados nas paragens justificavam a ausência de circulação com a greve geral. Só ao fim da manhã começaram a sair os primeiros comboios, a conta-gotas e com uma frequência muitíssimo distante da habitual. E assim se manteve até ao fim do dia.
Numa greve, os números e as percentagens têm uma grande importância. Mas a sua crueza não pode ocultar os avanços e as conquistas alcançadas pela organização dos trabalhadores nas empresas e locais de trabalho, em torno de objectivos concretos.